30 de ago. de 2012

Gramofone Apresenta: O Círculo

Tem na Bahia uma banda que tá pronta pra conquistar fãs em outros cantos do Brasil e levar a eles a energia das performances do grupo. Que banda seria essa num estágio tão avançado de maturidade a ponto de parar tudo agora e pegar as malas pra cair na estrada?


O Círculo. E por quê? Existem muitas ótimas bandas na Bahia, assim como em todo território nacional, mas a grande maioria delas ainda não atingiu um  FGTS (Foco Garantido pelo Tempo de Serviço) e segue divagando em busca de sua melhor musicalidade, embora muitos artistas talentosos seguem despontando a todo o tempo no Brasil.

Videoclipe de "Rosa Maria" composição do vocalista Roy no segundo disco da banda.

No caminho da O Círculo já são dois álbuns de estúdio e um ao vivo e mais de cinco anos de amadurecimento musical que culminaram no som equilibrado e de fácil assimilação pelo público. Nós batemos um papo massa com a galera da banda que, desejamos honestamente muito sucesso nessa longa estrada que os espera pelo mundão. Leia a entrevista completa abaixo.

Como se deu o início da O Círculo, o processo de formulação do grupo? O que vocês passaram para chegar até aqui?

O início se deu da dissidência de três músicos de outro grupo que se desfez e não poderiam deixar de lado suas afinidades artísticas (Júnior Martins, Israel Jabar e Pedro Pondé). Convidaram mais dois músicos atuantes da cena local de Salvador (Daniel Ragone e eu, Taciano Vasconcellos) que de imediato se identificaram com a proposta autoral e com a musicalidade a ser desenvolvida pelo grupo, além disso, as afinidades pessoais e a dinâmica de grupo se mostraram harmônicas nesse início. Mas, após dois anos e meio de trabalho, um disco lançado, inúmeros shows dentro e fora da Bahia, e já um reconhecido sucesso no âmbito local, alguns desentendimentos do grupo com o primeiro vocalista vieram à tona e culminaram com a sua saída. Após um período obscuro, de incertezas e busca de alguém que preenchesse esse espaço, encontramos um artista extremamente talentoso e que se mostrou disposto a aceitar a oportunidade e encarar o desafio de levar adiante o trabalho. Foi um momento difícil, mas muito revelador, onde diante das dificuldades conseguimos nos reerguer ainda mais confiantes e com a nossa vontade renovada. A partir daí a equipe cresceu e vem se harmonizando cada vez mais dentro da forma de trabalho que o Circulo se propõe, que é de divisão de responsabilidades e equanimidade, trabalho de grupo mesmo, onde cada um tem o mesmo peso nas decisões a serem tomadas, onde os desentendimentos são encarados de forma natural e sem afetações pois sabe-se que é em prol do melhor, do crescimento individual e coletivo.


De que forma são feitas as composições? Há um único compositor ou todo mundo dá sua contribuição no processo criativo?

Não existe uma forma única e exclusiva, acontece de diversas formas, todos na banda participam do processo, uns mais musicais, outros mais voltados para a composição textual das melodias ou ambos. Pode nascer a partir de uma melodia, de uma letra, de uma idéia, de um livro, de um groove, de uma conversa, de uma harmonia que soe bacana, tem que se estar atento pra coisa fluir. Acontece individualmente, em dupla ou em grupo, sendo que para o próximo disco estamos priorizando as criações que surgem nos encontros com participação efetiva de todos ou quase todos, às vezes é difícil organizar muitas idéias ao mesmo tempo, mas tem sido divertido e um bom aprendizado.


Como é ser independente no mercado musical brasileiro hoje? O que isto implica na música da O Círculo?

Acredito que é pensar além da questão musical e criativa, é pensar em como tornar seu trabalho acessível, como fazê-lo chegar às pessoas, como se relacionar com o público, como e com quem estabelecer parcerias, é se preocupar com tudo que abrange a produção artística e ter um olhar empreendedor... Na música do Circulo implica em saber a razão de ser de cada coisa a ser feita, o porquê de cada frase, de cada texto, de cada ação, enfim, significa estabelecer um sentido próprio, buscando sempre conteúdo e significado. Sabemos que por sermos independentes temos total liberdade artística, mas procuramos equilibrar isso de forma a manter e ampliar a comunicação com o público, com o mundo a nossa volta.

Vocês já estão na estrada há bastante tempo, o que vocês destacam como diferenças essenciais entre a cena independente do tempo em que começaram a fazer shows e a cena de hoje?

Em relação a Salvador, que de fato é a cena que a gente vivencia, pouca coisa mudou de verdade. É claro que esse período nosso de atividade é relativamente curto mas dá pra perceber uma mudança pequena, muito tímida ainda em relação ao próprio crescimento da população da cidade. Temos carência de espaços para apresentações, de uma mídia mais atenta ao mercado independente, ou de uma distribuição mais igualitária desses espaços de mídia. Uma das grande características de nossa cidade é sua diversidade cultural mas sofremos de uma acomodação, de um desinteresse sintomático pela produção efetivamente cultural em detrimento do grande mercado do entretenimento em nosso estado, e isso não só em música, mas em teatro, cinema, dança e outras manifestações. Em contrapartida observamos um amadurecimento dos artistas do mercado independente, com uma considerável melhora no grau de profissionalismo e qualidade nos trabalhos desses artistas, esse é um dos aspectos mais relevantes e que está fazendo com que o eixo se desloque gradativamente e contribuindo para uma mudança, ainda que incipiente.


Vocês já usaram algum tipo de financiamento cultural para o projeto de vocês? O quanto vocês acreditam que tais editais contribuem para o fortalecimento das bandas independentes?

Sim, os editais são importantes pois representam uma oportunidade de viabilização da produção e circulação dos artistas independentes, ainda que muito se discuta sobre o acesso a esse tipo de iniciativa, muita gente do cenário independente já foi beneficiada através das leis de incentivo.


Como artistas autorais independentes, do que vocês mais sentem falta para alcançar o público?

De uma maior distribuição do trabalho, de um maior acesso aos meios de comunicação de massa que possuem efeito multiplicador como rádio e TV. A internet é um meio maravilhoso mas é limitada àqueles que já se relacionam com o trabalho ou aos mais curiosos que possuem o perfil de pesquisadores, ávidos por conhecer coisas novas, o que são uma minoria.

Qual é o melhor disco da banda até hoje na opinião de vocês, e por quê?

O próximo, porque estamos e acreditamos num constante processo de crescimento e amadurecimento.

O que a O Círculo tem hoje que não tinha no primeiro disco?

Unidade.

Fora do momento de trabalho, o que vocês gostam de ouvir? O que estão ouvindo ultimamente?

É difícil dizer, todos são muito ecléticos, eu particularmente vivo pesquisando, tanto as novidades da música contemporânea no Brasil e no mundo como as coisas de quando nem era nascido ainda, da década de sessenta e início de setenta, por exemplo, gosto muito da produção musical dessa época. Nesse caso o prazer e o trabalho são inseparáveis, não tenho um artista preferido, gosto de muita gente, música é emoção, gosto de sentir emoções variadas. Acho ser importante também esse tipo de abertura para a formação musical de um bom instrumentista ou compositor.

Quais as peculiaridades da cena baiana?

A maior peculiaridade da cena baiana é a sua grande diversidade, sempre foi assim e sempre será, tem relação com a própria origem histórica do nosso povo, da Bahia saíram Caymmi, Raul Seixas, Tom Zé, João Gilberto, Gil, Ivete Sangalo, Pitty... mas acho que só estamos tomando consciência maior disso agora, antes tarde....

Se tivessem que fazer uma projeção do cenário independente brasileiro para os próximos 10 anos, qual seria?

Difícil! Depende de uma série de fatores, inclusive políticos e econômicos, mas por estarmos vivendo um momento de transição, onde todos, artistas, produtores musicais, produtores fonográficos, ainda estão aprendendo a lidar com a nova conjuntura do mercado musical, acredito que ainda virá um momento mais estável nessa nova “fase”. De uma forma geral acho que existe uma tendência à democratização dos espaços, e um conseqüente crescimento e profissionalização ainda maior do mercado independente.

Quais bandas da Bahia vocês curtem e acham que merecem mais atenção?

Tem muita gente boa, é sempre injusto citar nomes, mas acredito ter algumas bandas que merecem mais atenção como a Quarteto de Cinco e a banda o Quadro de Ilhéus.


Como andam os projetos da O Círculo? Estão em estúdio preparando alguma coisa?

Estamos pré-produzindo nosso terceiro disco autoral e preparando um projeto de circulação pelo país que devem acontecer entre o segundo semestre desse ano e o primeiro semestre do ano que vem. De imediato temos o lançamento do vídeo-clipe da música Rosa Maria, do disco Eu Humano, uma produção da João-de–Barro filmes e Banda o Circulo.


E a agenda para os próximos dias? Como podem encontrar a O Círculo e contratá-los para shows?

Temos um mini-tour pelo interior do estado ainda para o final do mês, passaremos por Ilhéus, Vitória da Conquista e Feira de Santana. O contato pode ser feito através do nosso hotsite : www.bandaocirculo.com.br, lá tem telefone, endereços eletrônicos e demais informações de contato.   


Fiquem à vontade para mandar uma mensagem ao leitor do Gramofone Virtual e apresentar o belíssimo trabalho da O Círculo. Obrigado, pessoal, muito sucesso a vocês, até a próxima!

Gostaríamos de agradecer a oportunidade, dizer que tivemos o prazer de nos apresentar recentemente na capital mineira, para um público muito receptivo e interessado e que queremos voltar em breve, quem sabe dando uma esticada até Juiz de Fora...rsrsrsrs. Queria dizer também que estamos disponibilizando para download um disco que gravamos ao vivo no início desse ano, com músicas dos nossos dois discos, lá no nosso hotsite, é isso, obrigado e um forte abraço no pessoal do Gramofone Virtual.



Para baixar é só clicar no ícone abaixo e divulgar o link pra que outras pessoas também conheçam o som.

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