Tem na Bahia uma banda que tá pronta pra conquistar fãs em outros cantos do Brasil e levar a eles a energia das performances do grupo. Que banda seria essa num estágio tão avançado de maturidade a ponto de parar tudo agora e pegar as malas pra cair na estrada?
O Círculo. E por quê? Existem muitas ótimas bandas na Bahia, assim como em todo território nacional, mas a grande maioria delas ainda não atingiu um FGTS (Foco Garantido pelo Tempo de Serviço) e segue divagando em busca de sua melhor musicalidade, embora muitos artistas talentosos seguem despontando a todo o tempo no Brasil.
Videoclipe de "Rosa Maria" composição do vocalista Roy no segundo disco da banda.
No caminho da O Círculo já são dois álbuns de estúdio e um ao vivo e mais de cinco anos de amadurecimento musical que culminaram no som equilibrado e de fácil assimilação pelo público. Nós batemos um papo massa com a galera da banda que, desejamos honestamente muito sucesso nessa longa estrada que os espera pelo mundão. Leia a entrevista completa abaixo.
Como se deu o início
da O Círculo, o processo de formulação do grupo? O que vocês passaram para
chegar até aqui?
O início se
deu da dissidência de três músicos de outro grupo que se desfez e não poderiam
deixar de lado suas afinidades artísticas (Júnior Martins, Israel Jabar e Pedro
Pondé). Convidaram mais dois músicos atuantes da cena local de Salvador (Daniel
Ragone e eu, Taciano Vasconcellos) que de imediato se identificaram com a
proposta autoral e com a musicalidade a ser desenvolvida pelo grupo, além disso,
as afinidades pessoais e a dinâmica de grupo se mostraram harmônicas nesse
início. Mas, após dois anos e meio de trabalho, um disco lançado, inúmeros
shows dentro e fora da Bahia, e já um reconhecido sucesso no âmbito local,
alguns desentendimentos do grupo com o primeiro vocalista vieram à tona e
culminaram com a sua saída. Após um período obscuro, de incertezas e busca de
alguém que preenchesse esse espaço, encontramos um artista extremamente
talentoso e que se mostrou disposto a aceitar a oportunidade e encarar o
desafio de levar adiante o trabalho. Foi um momento difícil, mas muito
revelador, onde diante das dificuldades conseguimos nos reerguer ainda mais
confiantes e com a nossa vontade renovada. A partir daí a equipe cresceu e vem
se harmonizando cada vez mais dentro da forma de trabalho que o Circulo se
propõe, que é de divisão de responsabilidades e equanimidade, trabalho de grupo
mesmo, onde cada um tem o mesmo peso nas decisões a serem tomadas, onde os
desentendimentos são encarados de forma natural e sem afetações pois sabe-se
que é em prol do melhor, do crescimento individual e coletivo.
De que forma são
feitas as composições? Há um único compositor ou todo mundo dá sua contribuição
no processo criativo?
Não existe
uma forma única e exclusiva, acontece de diversas formas, todos na banda participam
do processo, uns mais musicais, outros mais voltados para a composição textual
das melodias ou ambos. Pode nascer a partir de uma melodia, de uma letra, de
uma idéia, de um livro, de um groove, de uma conversa, de uma harmonia que soe
bacana, tem que se estar atento pra coisa fluir. Acontece individualmente, em
dupla ou em grupo, sendo que para o próximo disco estamos priorizando as
criações que surgem nos encontros com participação efetiva de todos ou quase
todos, às vezes é difícil organizar muitas idéias ao mesmo tempo, mas tem sido
divertido e um bom aprendizado.
Como é ser
independente no mercado musical brasileiro hoje? O que isto implica na música
da O Círculo?
Acredito que
é pensar além da questão musical e criativa, é pensar em como tornar seu
trabalho acessível, como fazê-lo chegar às pessoas, como se relacionar com o
público, como e com quem estabelecer parcerias, é se preocupar com tudo que
abrange a produção artística e ter um olhar empreendedor... Na música do
Circulo implica em saber a razão de ser de cada coisa a ser feita, o porquê de
cada frase, de cada texto, de cada ação, enfim, significa estabelecer um
sentido próprio, buscando sempre conteúdo e significado. Sabemos que por sermos
independentes temos total liberdade artística, mas procuramos equilibrar isso
de forma a manter e ampliar a comunicação com o público, com o mundo a nossa
volta.
Vocês já estão na
estrada há bastante tempo, o que vocês destacam como diferenças essenciais
entre a cena independente do tempo em que começaram a fazer shows e a cena de
hoje?
Em relação a
Salvador, que de fato é a cena que a gente vivencia, pouca coisa mudou de
verdade. É claro que esse período nosso de atividade é relativamente curto mas
dá pra perceber uma mudança pequena, muito tímida ainda em relação ao próprio
crescimento da população da cidade. Temos carência de espaços para
apresentações, de uma mídia mais atenta ao mercado independente, ou de uma
distribuição mais igualitária desses espaços de mídia. Uma das grande
características de nossa cidade é sua diversidade cultural mas sofremos de uma
acomodação, de um desinteresse sintomático pela produção efetivamente cultural em
detrimento do grande mercado do entretenimento em nosso estado, e isso não só
em música, mas em teatro, cinema, dança e outras manifestações. Em contrapartida
observamos um amadurecimento dos artistas do mercado independente, com uma
considerável melhora no grau de profissionalismo e qualidade nos trabalhos
desses artistas, esse é um dos aspectos mais relevantes e que está fazendo com
que o eixo se desloque gradativamente e contribuindo para uma mudança, ainda que
incipiente.
Sim, os
editais são importantes pois representam uma oportunidade de viabilização da
produção e circulação dos artistas independentes, ainda que muito se discuta
sobre o acesso a esse tipo de iniciativa, muita gente do cenário independente já
foi beneficiada através das leis de incentivo.
Como artistas autorais
independentes, do que vocês mais sentem falta para alcançar o público?
De uma maior
distribuição do trabalho, de um maior acesso aos meios de comunicação de massa
que possuem efeito multiplicador como rádio e TV. A internet é um meio
maravilhoso mas é limitada àqueles que já se relacionam com o trabalho ou aos
mais curiosos que possuem o perfil de pesquisadores, ávidos por conhecer coisas
novas, o que são uma minoria.
O próximo,
porque estamos e acreditamos num constante processo de crescimento e
amadurecimento.
O que a O Círculo tem
hoje que não tinha no primeiro disco?
Unidade.
Fora do momento de
trabalho, o que vocês gostam de ouvir? O que estão ouvindo ultimamente?
É difícil
dizer, todos são muito ecléticos, eu particularmente vivo pesquisando, tanto as
novidades da música contemporânea no Brasil e no mundo como as coisas de quando
nem era nascido ainda, da década de sessenta e início de setenta, por exemplo,
gosto muito da produção musical dessa época. Nesse caso o prazer e o trabalho
são inseparáveis, não tenho um artista preferido, gosto de muita gente, música
é emoção, gosto de sentir emoções variadas. Acho ser importante também esse
tipo de abertura para a formação musical de um bom instrumentista ou compositor.
Quais as
peculiaridades da cena baiana?
A maior
peculiaridade da cena baiana é a sua grande diversidade, sempre foi assim e
sempre será, tem relação com a própria origem histórica do nosso povo, da Bahia
saíram Caymmi, Raul Seixas, Tom Zé, João Gilberto, Gil, Ivete Sangalo, Pitty...
mas acho que só estamos tomando consciência maior disso agora, antes tarde....
Se tivessem que fazer
uma projeção do cenário independente brasileiro para os próximos 10 anos, qual
seria?
Difícil! Depende
de uma série de fatores, inclusive políticos e econômicos, mas por estarmos
vivendo um momento de transição, onde todos, artistas, produtores musicais,
produtores fonográficos, ainda estão aprendendo a lidar com a nova conjuntura
do mercado musical, acredito que ainda virá um momento mais estável nessa nova
“fase”. De uma forma geral acho que existe uma tendência à democratização dos
espaços, e um conseqüente crescimento e profissionalização ainda maior do
mercado independente.
Quais bandas da Bahia
vocês curtem e acham que merecem mais atenção?
Tem muita
gente boa, é sempre injusto citar nomes, mas acredito ter algumas bandas que
merecem mais atenção como a Quarteto de Cinco e a banda o Quadro de Ilhéus.
Como andam os projetos
da O Círculo? Estão em estúdio preparando alguma coisa?
Estamos
pré-produzindo nosso terceiro disco autoral e preparando um projeto de
circulação pelo país que devem acontecer entre o segundo semestre desse ano e o
primeiro semestre do ano que vem. De imediato temos o lançamento do vídeo-clipe
da música Rosa Maria, do disco Eu Humano, uma produção da João-de–Barro filmes
e Banda o Circulo.
E a agenda para os
próximos dias? Como podem encontrar a O Círculo e contratá-los para shows?
Temos um
mini-tour pelo interior do estado ainda para o final do mês, passaremos por
Ilhéus, Vitória da Conquista e Feira de Santana. O contato pode ser feito
através do nosso hotsite : www.bandaocirculo.com.br, lá tem telefone,
endereços eletrônicos e demais informações de contato.
Fiquem à vontade para
mandar uma mensagem ao leitor do Gramofone Virtual e apresentar o belíssimo
trabalho da O Círculo. Obrigado, pessoal, muito sucesso a vocês, até a próxima!
Gostaríamos
de agradecer a oportunidade, dizer que tivemos o prazer de nos apresentar
recentemente na capital mineira, para um público muito receptivo e interessado
e que queremos voltar em breve, quem sabe dando uma esticada até Juiz de
Fora...rsrsrsrs. Queria dizer também que estamos disponibilizando para download
um disco que gravamos ao vivo no início desse ano, com músicas dos nossos dois
discos, lá no nosso hotsite, é isso, obrigado e um forte abraço no pessoal do Gramofone Virtual.
Para baixar é só clicar no ícone abaixo e divulgar o link pra que outras pessoas também conheçam o som.
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Contatos: site
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