Numa manhã destas, trabalhando
ao som do novo CD do Wado, que está repleto de boas parcerias, tive um pequeno
“insight” que foi o gatilho que despertou em mim o interesse em fazer
uma explanação absolutamente parcial e subjetiva sobre o atual momento daquela
que acredito ser a mais diversa e bela música do mundo, a brasileira.
Este é o primeiro de uma série
de artigos questionadores, introspectivos e reflexivos que farão parte da nossa
recém-concebida coluna “Vertebral”,
que será apresentada aqui no Gramofone sem frequência determinada. A intenção é
publicar as ideias na ordem em que vierem, com o tom e peso em que vierem, sem
o compromisso da obrigação imposta pelos prazos.
Sei que alguns podem
questionar minha “pretensão ao escrever um Manual de Sobrevivência da Música
Brasileira”, mas é justamente devido a tal pretensão que me atrevo a dissertar
sobre o assunto, então vou aumentar o som e seguir em frente. Você pode fazer o
mesmo ou pode largar isso agora e procurar algo melhor pra fazer.
O objetivo principal deste
artigo é questionar e analisar o cenário musical independente brasileiro e entender
o que os artistas podem fazer para se manterem relevantes perante o público,
que é o que realmente importa tendo em vista que a mídia tradicional e as gravadoras
usam critérios questionáveis para decidir quem deve ou não aparecer para o
mundo.
Por causa da quantidade de
som que hoje é produzido e pode ser acessado através da internet, a música tem
se tornado cada vez mais efêmera e alguns chegaram a defini-la como
“descartável”. Músicos que outrora pertenceram à nata suportada por gigantescas
multinacionais do entretenimento, hoje precisam conviver com o inquestionável
declínio de seu poderio e se questionam como atingir tantas pessoas quanto era
possível antes, agora sem tal apoio.
Mesmo quem nunca teve este
“empurrãozão“, hoje se depara com a necessidade de inovar o tempo todo,
agregando novas tendências sem perder sua característica essencial. Sem espaço
na mídia tradicional, que insiste em produzir aberrações pseudo-artístico-musicais
e em massificá-los a qualquer custo, bons artistas estão se mexendo em busca de
algo que volte a dar retorno em um mercado que passa por um momento de muitas
incertezas e instabilidades, mas também de grandes evoluções.
Não é novidade que a mistura
de ritmos e a regionalização são fortes tendências na música brasileira, mas
analisadas mais a fundo podemos ver que são também ótimas estratégias para se
manter atualizado e por dentro do mercado. O produtor BiD nos serve de exemplo
neste caso, já que acostumado aos encontros de artistas de diferentes gêneros em
torno de projetos coerentes, ele lançou nestes últimos dias o “Bambas Dois”,
disco que reúne lendas vivas do reggae jamaicano e músicos da nova e velha
geração da música popular brasileira. Antes mesmo do lançamento oficial do
disco já podíamos afirmar que seria um sucesso, muito em função da qualidade
dos profissionais envolvidos no projeto, mas sem dúvida, também por causa do
formato do álbum, muito bem escolhido.
No “Bambas & BiritasVol.1”, a ideia de ter no mesmo CD Elza Soares, Rappin’ Hood, Seu Jorge, MarkuRibas, Carlos Dafé, Black Alien e Chico Science deu muito certo e foi adotada
também no “Bambas Dois”. Neste se encontram toda a brasilidade do veterano ChicoCésar e o dancehall/raggaeton do jamaicano Jah Marcus, Kymani Marley (filho do
rei) e Gonzaguinha (ele mesmo!), Anelis Assumpção e Luiz Melodia, enfim, a
fusão de ritmos e confrontação de gerações e ideias, parece mesmo fomentar e
ser agente ativo na transformação da música como a entendemos.
Outras possibilidades são as
tradicionais e já meio-baleadas opções de gravar um acústico ou um ao vivo com
novos arranjos e releituras, mas isto só vale pra quem tem uma carreira sólida
e longa. Não me venha lançar um “Banda X Acústico
e Ao Vivo” com menos de 10 anos de estrada, hein? Coisa de dupla sertaneja isto.
Como a mídia sempre teve
tendência à integração, expandir o contato com o público para outras áreas
costuma ser uma escolha acertada, como ocorreu no caso do Lobão, que lançou sua
autobiografia “50 Anos a Mil” (que eu
mesmo tenho e li em poucos dias porque é realmente muito boa) e continua em
evidência na memória do povo tupiniquim. Arnaldo Antunes tem o Grêmio Recreativo na MTV, que reúne uma galera da pesada uma vez por mês pra fazer um
showzasso juntos e também tem seus “ao vivos” entre novas composições como o
bom “Iê Iê Iê” e “Pequeno Cidadão”, ambos de 2009.
André Abujamra - Tem Luz na Cauda da Flecha by 2luan
André Abujamra - Tem Luz na Cauda da Flecha by 2luan
É de bom tom ressaltar a importância
das novas mídias na distribuição dos novos trabalhos. Nenhuma tática funcionará
plenamente se for insistido apenas nos antigos métodos do recriminável “jabá”. É
preciso levar a música a nichos antes inimagináveis pelos meios tradicionais (rádio,
TV) e a internet em alta velocidade possibilita isto perfeitamente. Não adianta
resistir, o conteúdo na rede é e deverá continuar a ser gratuito, portanto é
preciso encontrar outras formar de lucrar com o trabalho, que não a venda de antiquados
CDs que quase ninguém ouve mais. O projeto para a web deve ainda envolver um
bom site, presença constante em todas as redes sociais representativas, e conteúdo
atualizado para manter tudo interessante.
Tendo este panorama em mente
e adicionando a isto o fortalecimento e crescimento dos festivais no Brasil
(muito em função da crescente organização do Circuito Fora do Eixo), passou a
ser viável e relativamente fácil produzir encontro entre artistas que em outros
tempos nem pensavam em se encontrar. O blog “Compacto”, patrocinado pela Petrobrás pelo segundo ano seguido
através de leis de incentivo promove encontros entre músicos para uma conversa
com temas enviados pelo público do site, e claro, pra uma boa dose de parcerias
sonoramente experimentais.
Felizmente não é mais um
espanto ouvir levadas de carimbó numa “música de rock”, ou batidas de rap com
letras de MPB e vice-versa. Ouvir samples numa música popular não é mais
um choque. Estão se esvaindo as fronteiras, os conceitos, os pré-conceitos, e o
que permanece é o amor pela música, é ela em si, que a cada sinal de mudança
reage e avança a passos serenos rumo a sua constante (r)evolução.
Clique aqui e baixe a coletânea que fizemos para exemplificar o artigo.
Um texto de Luan Barreto.
Clique aqui e baixe a coletânea que fizemos para exemplificar o artigo.
Um texto de Luan Barreto.
2 comentários:
Adorei Luan!! ta de parabens ahahaha eu penso da mesma forma.
Valeu, Vivianne ;)
Que bom que chegou ao fim do artigo. rsrs
Bjss
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